domingo, 30 de setembro de 2012

Do ônibus



Atitude leviana incorporada no atual estilo de relações sentimentais. Vidro embaçado, cada veículo que passa a esquerda da janela é somente um borrão em direção contrária. Azia,  vazio da noite mal dormida que teve um de seus momentos mais descontraídos o final do filme Estômago e um miojo cozido com rabo-quente acompanhado de um vinho branco. Hoje Porto Alegre amanheceu como anoiteceu, chovendo. A insônia me espremeu a cabeça, gota a gota, até os olhos se fecharem. Líquidos por todo lado, nariz escorrendo.  Um envelope com três curiosos furos de cupim,  dentro um desenho em cor, isso seria lindo num dia cinza , mas não entreguei ainda. Seu ego, tão logo satisfeito, fica desfeito. Alguns Kms a frente e tudo parecerá apenas um fim de semana longe da cidade, mas nesse caso ao contrário, o retorno é para o interior.

A alergia chegou e junto uma corneta no peito. Asma e alergia, fumo zero e meio, se fosse permitido. Passei por tantos médicos por causa de um laudo, quando nenhum fizera algo a respeito de minha tosse...contudo, nessa noite de chuva, descanso entre um porre suave de vinho e Billie Holiday, não que eu seja fã...em POA.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

palco

junte sua dor, seus sonhos, suas dúvidas quanto à própria sanidade; faça a música mais linda, reconquiste cada linha que as sombras lhe tomaram.
morra no palco. lá embaixo, dirão que o som estava ruim ou que você poderia ter morrido só depois de mais uns hits. lá, longe.

cause i need to watch things die... from a distance

segunda-feira, 23 de maio de 2011

o porco

















o porco caminhava sobre a terra; à sua frente, as chaves e a placa.
indeciso, parou e sentou. a chuva caiu; ao seu lado, terra era lama.
a placa apontava o caminho dos homens - contrário ao das chaves.
as chaves pairavam livres no éter espacial, à distancia de um pulo.
pulando, chegava-se aos portões da escada que leva ao inferno;
subindo a escada, todo o infinito que pesa sobre os mundos.

o porco seguiu orientações da placa e achou os homens.
fizeram uma cerimônia para receber o novo presunto.

domingo, 24 de abril de 2011

Os chimpanzés, o engodo e a morte*

FELIZ PÁSCOA,
AMIGOS HUMANOS!

***

"Um chimpanzé macho adulto estava sozinho na área de ali­mentação quando uma caixa foi aberta eletronicamente, revelan­do a presença de bananas. Neste momento, chegou um segundo chimpanzé. Então o primeiro rapidamente fechou a caixa e afas­tou-se indiferente, olhando como se nada de mais estivesse acon­tecendo. Ele esperou até o intruso partir, e então rapidamente abriu a caixa e apoderou-se das bananas. Porém, ele havia sido enganado. O intruso não havia ido embora mas sim se escondido, e esperava para ver o que estava acontecendo. O pretenso trapa­ceiro havia sido trapaceado. Este é um exemplo convincente de engodo tático.
Observações como esta abrem uma janela para a mente dos chimpanzés. Estes animais evidentemente possuem um grau significativo de consciência reflexiva, uma conclusão que os pesqui­sadores que trabalham com chimpanzés diariamente endossam com entusiasmo. Os chimpanzés exibem um forte sentido de per­cepção na maneira pela qual interagem uns com os outros e com os humanos. Eles são capazes de ler a mente como os humanos o são, mas de modo mais limitado.
Nos humanos, a leitura da mente vai além de simplesmente predizer o que os outros farão sob certas circunstâncias: ela inclui como os outros podem estar se sentindo. Todos nós temos a expe­riência da simpatia, ou empatia, pelos outros quando estes enfren­tam situações que sabemos ser dolorosas ou aflitivas. De modo vicário, experimentamos a angústia dos outros, algumas vezes tão intensamente que chegamos a sofrer dores físicas. A mais pun­gente das experiências vicárias na sociedade humana é o medo da morte, ou simplesmente a percepção da morte, que tem desempe­nhado um papel muito importante na construção de mitologias e religiões. A despeito de sua autopercepção, os chimpanzés no má­ximo parecem intrigados com a morte. Há muitos relatos anedóticos de indivíduos, ou mesmo famílias, aflitas ou desorientadas quando um parente morre. Por exemplo, quando um bebê morre, sua mãe algumas vezes carrega o diminuto corpo a esmo durante alguns dias antes de descartar-se dele. A mãe parece estar experi­mentando uma sensação de aturdimento e não o que chamamos pesar. Mas, como sabê-lo? Mais significativo, talvez, é a falta do que reconheceríamos como simpatia pela mãe despojada por parte dos outros indivíduos. O que quer que a mãe esteja sofren­do, ela sofre sozinha. A limitação dos chimpanzés em ter empatia com os outros estende-se a si próprios como indivíduos: ninguém viu indícios de que os chimpanzés estão cientes de sua própria mortalidade, de uma morte iminente. Mas, novamente, como sabê-lo?"

(*) A origem da espécie humana - Richard Leakey (pg 145)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Johnny got his gun

este é o filme que o acaso trouxe à minha porta hoje.
assistam: é um tiro na cara.
it's the art of dying.
it's nothing.


quinta-feira, 14 de abril de 2011

Tecnicolor

Fumaça. Corpo sem forma. Foi-se a fantasma. Única viva alma cruza o corredor. Cadeira institucional, dor nas costas, primeiro sintoma, segundo, bunda reta e formigada. Um avulso sentado no ônibus, torce o pescoço para uma guria desgrenhada na secada. Fazia os primeiros frios do ano. Sem pessoas. No vácuo entre o domingo e a segunda, a desgradável quietude das 4h. Vermelho-amarelo-verde, amarelo-verde-vermelho. Só assim, na João Pessoa, a dancinha do semáforo era protagonista da esquina. Quem sabe choveria pela manhã, o ensopado da cidade ficaria inchado pelo volume de carros. Contra o vidro, uma pequena mariposa mexe as asas. Por mais que tente, suba e desça sem parar, está encurralada entre o hall e a transparência.

terça-feira, 12 de abril de 2011

¿Hacemos tabla rasa del pasado?*

"Firmar un libro es algo que parece natural. El lector va a poner una etiqueta, el debutante podrá hacerse 'un nombre', el editor disfrutará de la notoriedad del autor que ha publicado ya, y de todos modos, dentro de la moral individualista-burguesa del Occidente, cada qual debe asumir la responsabilidad 'privada' de lo que ha escrito. 'Hacer honor a la propria firma'; esta regla elemental del comercio funciona también para los intelectuales...
Como si un texto, éste por ejemplo, se lo debiera todo a su autor y nada a los demás. Como si las informaciones reunidas aquí, los análisis, los temas hubieron surgido en el espléndido aislamiento del cerebro de un individuo. El autor no es más que un enlace, la escritura no es más que un reflejo. Un texto, y eso es lo que el presente se propone, puede ayudar a plantear los problemas, a hacerlos madurar. Pero sus informaciones, sus análisis, sus temas no han podido ser formulados y despejados por su autor sino porque ya circulaban en estado latente, porque ya existián en la conciencia colectiva de manera difusa, porque estaban producidos por una práctica social; en el caso presente por la crisis del saber histórico, tanto entre los productores como entre los consumidores de ese saber. Si la historia es realmente una referencia activa y colectiva al pasado, la reflexión sobre la historia no puede ser sino activa y colectiva también; las contribuciones individuales sólo cuentan en la medida en que se insertan en esta relación activa y colectiva, para mejor formularla, para dárle más fuerza.
Una firma, de todos modos, es un hecho individual. Es la aflición a destacarse; no hay sino ver la agitación febril de la inmensa mayoría de los autores cuando se trata de corregir las pruebas, de firmar el servicio de prensa, de pasar revista a las reseñas que se les han consagrado, esto sin hablar de sus derechos de autor. Gusta afirmarse, llamar la atención sobre uno mismo, porque es lo que cuenta en el juego social del occidente capitalista. Gusta pavonearse sobre la cubierta de un libro, aunque no siempre sea con los dedos del pie abiertos en abanico... Contra este exhibicionismo no siempre franco ni asumido, ¿no és el seudónimo el remedio más sencillo? ¿O la firma colectiva, o incluso el anonimato? Marx no había firmado El manifesto comunista, que siegue siendo su 'mejor texto' (como se dice entre los críticos cultos), porque estaba convencido de no ser más que un enlace y un reflejo; pensaba que estaba ayudando a los obreros revolucionarios de la Liga de los Justos a deducir sus análisis y perspectivas, y nada más. Los jóvenes intelectuales que fundaron el Partido Comunista Chino, en los años veinte i los años treinta, utilizaban sistemáticamente el seudónimo, no tanto por precaución contra la policía como por antídoto de la valorización del individuo. Se han contado 53 seudónimos diferentes de Qu Qiubai, crítico literario que fue en un momento secretario general del PCC y asesinado por el Guomindang en 1933. Los científicos radicales de la revista Impascience practican de manera sistemática el anonimato: ningún artículo va firmado.
Además, la firma es un elemento de valorización mundana y publicitaria en la sociedad del espectáculo. La literatura política tiene sus estrellas, y todos pretenden ter haber lido el último Marcuse o el último Althusser. Cuando se dispone de este punto de referencia, es fácil hablar sobre un libro que no se ha leído sino superficialmente, o que no se ha leído en absoluto. Pero si es un libro sin embalaje publicitario individualizado, no se harán juicios sobre lo que dice, no se mencionará siquiera, más que en el caso de haberlo leído efectivamente por sí mismo."

(*) ¿Hacemos tabla rasa del pasado? - Jean Chesneaux (pp 17-19)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

we the animals

ontem, fui até o hall buscar água e parei pra ouvir a história que a Gisele começava a contar. era sobre uma cena que ela viu no trabalho, o hospital psiquiátrico São Pedro. lá tem um cara que ficava pelado no pátio, na dele. daí ontem, os caras de branco arrumaram um macacão pra ele, coisa super-segura: as alças davam algumas voltas pelo pescoço, passavam pelas costas e ao redor da barriga e depois eram muitíssimo bem amarradas de volta às costas.
ontem, o cara que sempre ficava na dele se agitou, e apontava pro céu e gritava "vai cair, lá em cima vai cair!" e tentava tirar o macacão.
eu disse:
- se alguém não pode ficar pelado sequer num lugar que teoricamente abriga transgressores da nossa magnífica sociedade, não tá tudo muito errado enquanto todos acreditam que tá certo? é ofensivo um corpo humano sem roupa?
(não é ofensivo quando é o cadáver de um indigente no morgue da universidade)
todos escondem seu medo num outro que pode ser qualquer um.


***


allora, as linhas abaixo foram escritas em 05, 13 e 19 de março de 2009. nessa época eu trabalhava numa empresa from hell (como muitas empresas em qualquer lugar do mundo). trabalhava 9h por dia, ganhava um salário risível e estudava todas as noites.
vocês nunca tiveram a sensação de não poder fazer nada do que se quer fazer onde está? como se o tempo em que você está ali não pudesse existir pra você: você existe para A Empresa, para O Colégio, para A Namorada. eu já senti isso, talvez vocês já tenham sentido.
nessa empresa, a tela do meu computador ficava virada de maneira que umas 20 pessoas podiam ver qualquer coisa que eu fizesse. certa vez, o trabalho do dia já estava feito e abri uma página do word pra notar uma idéia. fui chamada até a sala do Supervisor e repreendida: "é um trabalho que exige atenção, esteja atenta para quando chegar trabalho".
era como se eu não existisse enquanto estivesse na Empresa.
então comprei um caderninho com um porco na capa e escrevi essas linhas durante meu horário de almoço.
andava que nem um zumbi. de manhã cedo pegava um T3 entupido de gente pra ir até a zona norte trabalhar. às 18h eu corria até a parada do T8 pra encontrar meu amigo R. e ir até o Campus do Vale pra chegar sempre atrasada na aula, depois de um trajeto engarrafado de 1h~1h20.
um tempo depois, fiquei muito doente. não conseguia mais caminhar nem sentar nem nada sem sentir muita dor nas costas. fui consultar um médico, e ele pediu uns exames. continuei precisando ir trabalhar e ir na aula, era semana de provas. a dor aumentou. um dia deixei de ir na aula e fui até o hospital. lá, o doutor disse que devia ser algo nos ossos e me deu uma injeção. saí de lá pior, com ainda mais dor. entrei num ônibus e me arrastei até minha casa. no dia seguinte não consegui levantar da cama pra trabalhar, nem no outro. quando os exames ficaram prontos, fui consultar outro médico (pai do meu amigo R.) - que me examinou a ponto de dizer finalmente o que causava a dor.
precisei de uma semana de atestado pra ficar em casa me recuperando na cama.
no dia em que voltei a trabalhar, fui demitida.
então senti como se estivesse parada no meio de uma avenida que nunca vai parar por nada e ninguém faz diferença. e mesmo que eu morresse pelo dinheiro que precisava, seria só mais outra que morreu sem dinheiro nem ninguém que soubesse meu nome pra colocar um anúncio no obituário do jornal.


***

(pra ler ouvindo Angel Dust ou Animals)


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Cães

Pague um bom salário a alguém. É praticamente infalível. Melhor: junte um bando, dê a cada um deles uma mesa com telefone e computador com internet, dê-lhes uma torta ao final de cada mês e um aperto de mão no dia do aniversário.
Eles serão seus, comprados e com recibinho e tudo. O dono, Dono com letra maiúscula. Dono de seu tempo, de seu amor-próprio.
Eles serão seus e se sentirão felizes em chamar sua atenção.
Cães. Com maços de ordens de serviço na boca ao invés de bolinhas de borracha, cães.
Eles serão fiéis e vigiarão o resto da matilha por você, ficarão à espreita: ao farejar o menor sinal de revolta, correrão e se esfregarão por entre suas pernas com a notícia ainda viva e fresca na boca.
Afague-os então, diga-lhes como é gratificante poder contar com criaturas assim, tão obedientes. Eles se aninharão a seus pés e ali ficarão durante o tempo que você quiser. Eles o idolatrarão, será para eles mais que os outros, mais que humano, um semi-deus. Um humano entre os cães.


Cães na sexta-feira 13

Foi numa sexta-feira à tarde isso. O ambiente já estava calmo, clima de domingo no ar. Robinfon o fuça comprida espreitava por cima dos ombros dos companheiros à procura de uma notícia viva - era o mais algoz dentre os matadores de notícias: matava-as e corria com elas na boca, frescas, e enroscava-se por entre as pernas de seu humano como se estivesse no cio. assim estava Robinfon o fuça comprida; Esteta o seios fartos estava sentado em sua cadeira de rodinhas, rodando em torno de si mesmo para estimular o suor - É saudável pra emagrecer, dizia.
Um dos filhotes aparece na porta, olhos esbugalhados, arfando.
- Achei algo que pode ser útil... um pouco sujo de lama, sinto muitíssimo, mas já tava assim quando encontrei. - disse o filhote
- Oh, tome um biscoito, fofo filhote, pegue o biscoito - isso. Sente-se aqui do meu lado e conte-me tudo, oh sim, tudo! - falou Robinfon o fuça comprida
O filhote segurou o biscoito entre as patas e deixou cair um envelope no chão. Robinfon o fuça comprida o recolheu e cheirou.
- Hum, sim sim, ainda está fresco, fresquíssimo! - constatou Robinfon o fuça comprida
Ao ouvir isso, Esteta o seios fartos parou de girar em torno de si na cadeira de rodinhas e se aproximou um pouco mais do filhote, assim: o filhote sentado numa cadeira, entretido com o biscoito, Robinfon o fuça comprida de pé em frente ao filhote, com as duas patas unidas em frente ao peito, e Esteta o seios fartos ao lado esquerdo de Robinfon o fuça comprida, em sua cadeira de rodinhas.
- Mas ora, veja só isto, veja Esteta: temos aqui alguém perfeito para o próximo sacrifício. - disse Robinfon o fuça comprida
- Deixa pra mim ver aqui, passa isso pra mim que eu quero! - falou Esteta o seios fartos, e num movimento incrivelmente ágil para o seu tamanho abocanhou o envelope
Robinfon o fuça comprida deu uma patada na orelha de Esteta o seios fartos e gritou:
- Seu porco rechonchudo, seu monstrinho, isto aqui não é uma tigela de lavagem e não há motivo para tanta euforia! Olhe só o que aconteceu, seu vermezinho!
Esteta o seios fartos estava com um pedaço do envelope na boca, cuspiu. Voltou para a cadeira de rodinhas.
- Muito bem, acalme-se - isso. Vejamos o que diz aqui: - falou Robinfon o fuça comprida, já recomposto em seus modos dignos e refinados - aqui diz, é uma prova explícita na verdade, a prova de que alguém cometeu um erro. Oh!
- Erro erro erro! Delícia! - disse Esteta o seios fartos e voltou a girar na cadeira de rodinhas
- Eu vou, Esteta, eu vou: fique aqui e apenas observe. - falou Robinfon o fuça comprida
Com o envelope na boca, Robinfon o fuça comprida caminhou mansamente até a porta do humano e pôs-se a arranhá-la. A porta foi aberta. Esfregou-se por entre as pernas do humano e deixou cair o envelope a seus pés. O humano leu atentamente os dizeres contidos no envelope e ao final disso encostou gentilmente a ponta do indicador na fuça de Robinfon o fuça comprida.
E Robinfon o fuça comprida voltou para o meio dos seus: mais uma vez, achara alguém que pudesse ser sacrificado no lugar dos seus ou dele mesmo. Ao menos por enquanto estavam expurgados, não seria dessa vez que pagariam o preço pela vida de cães que escolheram levar.


Eldorado, besouro sem sobrenome

Era um besouro entre os cães, esse Eldorado. Eram muitos cães e Eldorado esperava rosnados e outras coisas mais violentas que cães fazem sem ter motivo. Qualquer movimento e todos o olhavam – era um besouro e muitos cães. É verdade que eram cães de comportamento muito refinado e muito caros, do tipo que obedece mesmo; mas eram cães e ele era um besouro, para todo o sempre desconfiaria das intenções da matilha. tinha certeza de que eles já tinham um plano tramado para o caso de os ventos mudarem de direção.

Ora, ele estava ali para prestar seus serviços, tinha um contrato assinado que garantia sua imunidade e assegurava um relacionamento completamente profissional entre ele e os cães. Eram bons cães! Recostou-se na cadeira e relaxou – eram bons cães. Olhou para o cão sentado na mesa à sua frente, o olhava e estava com o canino esquerdo de fora. Descuido - não era nada além de um descuido. Eldorado não tinha dado nenhum motivo para que os cães o tratassem de forma hostil e eram cães refinados. Bobagem era essa mania de perseguição: eram tempos modernos e civilizados, tudo era fruto de sua imaginação e sabia que os cães seriam incapazes de lhe fazer qualquer coisa.

Da carapaça tirou um copo branco de plástico, foi até o galão de água mineral e o encheu. Voltou com ele na mão, caminhando devagar – o copo estava bem cheio. O ruim de voltar devagar é que sempre se chama mais atenção do que gostaria, e aquele ambiente já era detestável normalmente: caminhar devagar só piorava tudo. Não precisava desviar o olhar do copo para saber que vários pares de olhos deveriam estar-lhe acompanhando cada passo. Passou em frente à mesa de Robinfon o fuça comprida e sentiu um leve tremor a percorrer seu corpo; isso fez com que derramasse algumas gotas da água do copo no piso. Eldorado olhou para o piso e depois para Robinfon: Robinfon o olhava de volta. Ele ouviu, tinha certeza que ouviu um rosnado abafado vindo dele.

Hesitou durante alguns segundos, olhou para o copo. Robinfon o fuça comprida continuava acompanhando seus movimentos, apoiou os cotovelos sobre a mesa e o queixo sobre as duas patas para observá-lo mais atentamente. Num giro rápido de corpo inteiro, Eldorado aproveitou o embalo e jogou a água do copo toda na cara de Robinfon. O ambiente se aquietou; Robinfon passou a pata pela cara, prostrou-se sobre as quatro patas e avançou na direção do besouro. Eldorado não soube explicar por que fizera aquilo e sabia muito menos sobre o que fazer agora. Quando todos os cães começaram a levantar de suas mesas, a carapaça de Eldorado se abriu: há tanto tempo não usava suas asas que havia esquecido que tinha. Voou.

Olhou para trás quando já estava a uma altura segura: Robinfon o fuça comprida estapeava Esteta o seios fartos e o resto dos cães estava reunido em torno da cena fazendo grande alarido e fazendo nada.

Eldorado voaria e faria apenas isso pelo resto da vida: tinha asas.

domingo, 27 de março de 2011

show de fraldas Kuririn + Lilli = Luiza

origem das ciências humanas (em 44s)

Assim expliquei a Monsieur Casmurro a origem das ciências humanas em 44 segundos durante uma aula de filosofia das ciências humanas no ano passado.
Vocês vizinhos já estiveram familiarizados com a teoria (e com as benesses) do Semi-Deus Réptil em 2010; agora é outono momento de louvar ao Deus-Cavalo On/Off(re).
LOUVEM! e aguardem.

sábado, 5 de março de 2011

copo magic

Crazy Daisy tem um copo magic para pessoas sexualmente indecisas. Usando-o do jeito certo, é possível variar o gênero do seu parceiro de acordo com seu humor.

Você só precisará de um pouco de vinho tinto seco. Após tomar o primeiro gole, diga:
"Oh grande Dionísio, faça reinar o caos!"

Quando sua versão caótica em gênero inverso aparecer à sua frente, ofereça-lhe o resto do vinho.

... e está feita a magic do copo.