segunda-feira, 23 de maio de 2011
o porco
domingo, 24 de abril de 2011
Os chimpanzés, o engodo e a morte*
Observações como esta abrem uma janela para a mente dos chimpanzés. Estes animais evidentemente possuem um grau significativo de consciência reflexiva, uma conclusão que os pesquisadores que trabalham com chimpanzés diariamente endossam com entusiasmo. Os chimpanzés exibem um forte sentido de percepção na maneira pela qual interagem uns com os outros e com os humanos. Eles são capazes de ler a mente como os humanos o são, mas de modo mais limitado.
Nos humanos, a leitura da mente vai além de simplesmente predizer o que os outros farão sob certas circunstâncias: ela inclui como os outros podem estar se sentindo. Todos nós temos a experiência da simpatia, ou empatia, pelos outros quando estes enfrentam situações que sabemos ser dolorosas ou aflitivas. De modo vicário, experimentamos a angústia dos outros, algumas vezes tão intensamente que chegamos a sofrer dores físicas. A mais pungente das experiências vicárias na sociedade humana é o medo da morte, ou simplesmente a percepção da morte, que tem desempenhado um papel muito importante na construção de mitologias e religiões. A despeito de sua autopercepção, os chimpanzés no máximo parecem intrigados com a morte. Há muitos relatos anedóticos de indivíduos, ou mesmo famílias, aflitas ou desorientadas quando um parente morre. Por exemplo, quando um bebê morre, sua mãe algumas vezes carrega o diminuto corpo a esmo durante alguns dias antes de descartar-se dele. A mãe parece estar experimentando uma sensação de aturdimento e não o que chamamos pesar. Mas, como sabê-lo? Mais significativo, talvez, é a falta do que reconheceríamos como simpatia pela mãe despojada por parte dos outros indivíduos. O que quer que a mãe esteja sofrendo, ela sofre sozinha. A limitação dos chimpanzés em ter empatia com os outros estende-se a si próprios como indivíduos: ninguém viu indícios de que os chimpanzés estão cientes de sua própria mortalidade, de uma morte iminente. Mas, novamente, como sabê-lo?"
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Johnny got his gun
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Tecnicolor
terça-feira, 12 de abril de 2011
¿Hacemos tabla rasa del pasado?*
quarta-feira, 6 de abril de 2011
we the animals
ontem, o cara que sempre ficava na dele se agitou, e apontava pro céu e gritava "vai cair, lá em cima vai cair!" e tentava tirar o macacão.
eu disse:
- se alguém não pode ficar pelado sequer num lugar que teoricamente abriga transgressores da nossa magnífica sociedade, não tá tudo muito errado enquanto todos acreditam que tá certo? é ofensivo um corpo humano sem roupa?
(não é ofensivo quando é o cadáver de um indigente no morgue da universidade)
todos escondem seu medo num outro que pode ser qualquer um.
***
Pague um bom salário a alguém. É praticamente infalível. Melhor: junte um bando, dê a cada um deles uma mesa com telefone e computador com internet, dê-lhes uma torta ao final de cada mês e um aperto de mão no dia do aniversário.
Eles serão seus, comprados e com recibinho e tudo. O dono, Dono com letra maiúscula. Dono de seu tempo, de seu amor-próprio.
Eles serão seus e se sentirão felizes em chamar sua atenção.
Cães. Com maços de ordens de serviço na boca ao invés de bolinhas de borracha, cães.
Eles serão fiéis e vigiarão o resto da matilha por você, ficarão à espreita: ao farejar o menor sinal de revolta, correrão e se esfregarão por entre suas pernas com a notícia ainda viva e fresca na boca.
Afague-os então, diga-lhes como é gratificante poder contar com criaturas assim, tão obedientes. Eles se aninharão a seus pés e ali ficarão durante o tempo que você quiser. Eles o idolatrarão, será para eles mais que os outros, mais que humano, um semi-deus. Um humano entre os cães.
Cães na sexta-feira 13
Foi numa sexta-feira à tarde isso. O ambiente já estava calmo, clima de domingo no ar. Robinfon o fuça comprida espreitava por cima dos ombros dos companheiros à procura de uma notícia viva - era o mais algoz dentre os matadores de notícias: matava-as e corria com elas na boca, frescas, e enroscava-se por entre as pernas de seu humano como se estivesse no cio. assim estava Robinfon o fuça comprida; Esteta o seios fartos estava sentado em sua cadeira de rodinhas, rodando em torno de si mesmo para estimular o suor - É saudável pra emagrecer, dizia.
Um dos filhotes aparece na porta, olhos esbugalhados, arfando.
- Achei algo que pode ser útil... um pouco sujo de lama, sinto muitíssimo, mas já tava assim quando encontrei. - disse o filhote
- Oh, tome um biscoito, fofo filhote, pegue o biscoito - isso. Sente-se aqui do meu lado e conte-me tudo, oh sim, tudo! - falou Robinfon o fuça comprida
O filhote segurou o biscoito entre as patas e deixou cair um envelope no chão. Robinfon o fuça comprida o recolheu e cheirou.
- Hum, sim sim, ainda está fresco, fresquíssimo! - constatou Robinfon o fuça comprida
Ao ouvir isso, Esteta o seios fartos parou de girar em torno de si na cadeira de rodinhas e se aproximou um pouco mais do filhote, assim: o filhote sentado numa cadeira, entretido com o biscoito, Robinfon o fuça comprida de pé em frente ao filhote, com as duas patas unidas em frente ao peito, e Esteta o seios fartos ao lado esquerdo de Robinfon o fuça comprida, em sua cadeira de rodinhas.
- Mas ora, veja só isto, veja Esteta: temos aqui alguém perfeito para o próximo sacrifício. - disse Robinfon o fuça comprida
- Deixa pra mim ver aqui, passa isso pra mim que eu quero! - falou Esteta o seios fartos, e num movimento incrivelmente ágil para o seu tamanho abocanhou o envelope
Robinfon o fuça comprida deu uma patada na orelha de Esteta o seios fartos e gritou:
- Seu porco rechonchudo, seu monstrinho, isto aqui não é uma tigela de lavagem e não há motivo para tanta euforia! Olhe só o que aconteceu, seu vermezinho!
Esteta o seios fartos estava com um pedaço do envelope na boca, cuspiu. Voltou para a cadeira de rodinhas.
- Muito bem, acalme-se - isso. Vejamos o que diz aqui: - falou Robinfon o fuça comprida, já recomposto em seus modos dignos e refinados - aqui diz, é uma prova explícita na verdade, a prova de que alguém cometeu um erro. Oh!
- Erro erro erro! Delícia! - disse Esteta o seios fartos e voltou a girar na cadeira de rodinhas
- Eu vou, Esteta, eu vou: fique aqui e apenas observe. - falou Robinfon o fuça comprida
Com o envelope na boca, Robinfon o fuça comprida caminhou mansamente até a porta do humano e pôs-se a arranhá-la. A porta foi aberta. Esfregou-se por entre as pernas do humano e deixou cair o envelope a seus pés. O humano leu atentamente os dizeres contidos no envelope e ao final disso encostou gentilmente a ponta do indicador na fuça de Robinfon o fuça comprida.
E Robinfon o fuça comprida voltou para o meio dos seus: mais uma vez, achara alguém que pudesse ser sacrificado no lugar dos seus ou dele mesmo. Ao menos por enquanto estavam expurgados, não seria dessa vez que pagariam o preço pela vida de cães que escolheram levar.
Eldorado, besouro sem sobrenome
Era um besouro entre os cães, esse Eldorado. Eram muitos cães e Eldorado esperava rosnados e outras coisas mais violentas que cães fazem sem ter motivo. Qualquer movimento e todos o olhavam – era um besouro e muitos cães. É verdade que eram cães de comportamento muito refinado e muito caros, do tipo que obedece mesmo; mas eram cães e ele era um besouro, para todo o sempre desconfiaria das intenções da matilha. tinha certeza de que eles já tinham um plano tramado para o caso de os ventos mudarem de direção.
Ora, ele estava ali para prestar seus serviços, tinha um contrato assinado que garantia sua imunidade e assegurava um relacionamento completamente profissional entre ele e os cães. Eram bons cães! Recostou-se na cadeira e relaxou – eram bons cães. Olhou para o cão sentado na mesa à sua frente, o olhava e estava com o canino esquerdo de fora. Descuido - não era nada além de um descuido. Eldorado não tinha dado nenhum motivo para que os cães o tratassem de forma hostil e eram cães refinados. Bobagem era essa mania de perseguição: eram tempos modernos e civilizados, tudo era fruto de sua imaginação e sabia que os cães seriam incapazes de lhe fazer qualquer coisa.
Da carapaça tirou um copo branco de plástico, foi até o galão de água mineral e o encheu. Voltou com ele na mão, caminhando devagar – o copo estava bem cheio. O ruim de voltar devagar é que sempre se chama mais atenção do que gostaria, e aquele ambiente já era detestável normalmente: caminhar devagar só piorava tudo. Não precisava desviar o olhar do copo para saber que vários pares de olhos deveriam estar-lhe acompanhando cada passo. Passou em frente à mesa de Robinfon o fuça comprida e sentiu um leve tremor a percorrer seu corpo; isso fez com que derramasse algumas gotas da água do copo no piso. Eldorado olhou para o piso e depois para Robinfon: Robinfon o olhava de volta. Ele ouviu, tinha certeza que ouviu um rosnado abafado vindo dele.
Hesitou durante alguns segundos, olhou para o copo. Robinfon o fuça comprida continuava acompanhando seus movimentos, apoiou os cotovelos sobre a mesa e o queixo sobre as duas patas para observá-lo mais atentamente. Num giro rápido de corpo inteiro, Eldorado aproveitou o embalo e jogou a água do copo toda na cara de Robinfon. O ambiente se aquietou; Robinfon passou a pata pela cara, prostrou-se sobre as quatro patas e avançou na direção do besouro. Eldorado não soube explicar por que fizera aquilo e sabia muito menos sobre o que fazer agora. Quando todos os cães começaram a levantar de suas mesas, a carapaça de Eldorado se abriu: há tanto tempo não usava suas asas que havia esquecido que tinha. Voou.
Olhou para trás quando já estava a uma altura segura: Robinfon o fuça comprida estapeava Esteta o seios fartos e o resto dos cães estava reunido em torno da cena fazendo grande alarido e fazendo nada.
Eldorado voaria e faria apenas isso pelo resto da vida: tinha asas.
sexta-feira, 1 de abril de 2011
domingo, 27 de março de 2011
origem das ciências humanas (em 44s)
sábado, 5 de março de 2011
copo magic
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
sábado, 15 de janeiro de 2011
Poesia traduzida: "Falha" de Philip Schultz
domingo, 9 de janeiro de 2011
sábado, 1 de janeiro de 2011
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Rosa Negra e a serpente

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Life is allright on the Rhine
De volta ao quarto, e de volta a janela cuja paisagem decidiu-se pela estaticidade dos prédios intermináveis onde só o que muda de lugar é uma luz que se acende e outra que se apaga. Estranho pensar que embora haja movimento de passagem de pedestres e automóvies ou lotações, veículo de carga levando pessoas sabe se lá pra onde, os prédios não se movem. Fiz um lanche que antecederá a possível noite comemorativa e a impressão do queijo ter caído no chão, logo percebo ter sido o guardanapo pelo movimento demasiadamente mais lento de queda em relação a uma fatia de queijo,e nem preciso saber de física, não, embora aquela memória da faculdade de engenharia e arquitetura permaneça ali, com certeza o melhor cappuccino que já provei, ah sim como a memória está ali, até quando diria Ginzburg, será que nossas memórias tornaram-se HDs? Esqueço o pão na torradeira. Todos os dias é a imensidão dos prédios o que vejo, e paro, paro na janela deixando a vastidão me imergir, lembro das leis de Newton. Porque a diferença da cidade grande é que apesar das todas as gentes que te invadem o espaço todos os dias, é que tu continua sozinho olhando a imensidão da janela. É bom sentir que um porco estampado em uma caneca de porcelana fez alguém sorrir, alguém por quem se tem carinho. Postcards from Italy é o que ouço. Talvez um dia mande cartões postais do Reno também. Talvez a vida seja allright no Reno, talvez os dias sejam meus. Talvez os morangos ainda não tenham mofado na geladeira.