sábado, 28 de agosto de 2010

Tool

Tool é uma banda tão singular que não dá nem para encaixar em algum estilo - como Queen, Pink Floyd, The Beatles e outras poucas que conhecemos. Me inquieta um pouco o fato de Tool ser tão desconhecido no Brasil, mas também não é surpresa: para mim, Tool é o equivalente musical de David Lynch - freak e perturbador.


São desconhecidos por aqui, mas mundialmente reconhecidos e venerados desde o começo dos anos 1990. Associo-os ao efervescente cenário art rock / avant-garde que começou a se formar na Califórnia em fins da década de 1980 e se alastra até hoje pelos subterrâneos de San Francisco. Dentre os principais nomes do movimento*, destaco o de Mike Patton (vocalista do Faith No More que participou de inúmeros projetos, como Mr. Bungle, Fantômas, Peeping Tom, Mondo Cane, Dan the Automator, Kool Keith, General Patton vs The X-Ecutioners, Team Sleep, Subtle, Rahzel, Amon Tobin, Eyvind Kang, Lovage; fez parcerias com Björk e John Kaada; produziu a trilha sonora de alguns filmes e dublou outros, como I Am Legend; e em 1999 fundou o selo Ipecac Recordings).


> FAMA E OBSCURIDADE

Em 1990, quatro caras formaram uma banda na gangsta city dos Anjos: Maynard James Keenan, Adam Jones, Danny Carey e Paul D'Amour.

>>> Maynard
largou o exército para ingressar no Kendall College of Art and Design (Michigan) e mudou-se mais tarde para Los Angeles, onde conheceria o guitarrista, artista plástico e técnico em efeitos especiais Adam Jones.

Jones <<<
era vizinho do baterista Danny Carey, ao qual foi apresentado por Tom Morello (ex-guitarrista do Audioslave / atual Rage Against The Machine). Adam Jones e Morello haviam tocado juntos em uma banda chamada Electric Sheep.

>>> Carey
se ofereceu para tocar bateria com Maynard e Adam
por indicação de Tom Morello, pois sentia pena dos dois por não terem ninguém para tocar (as pessoas que eles chamavam nunca retornavam ou sequer chegaram a aparecer).

D'Amour <<<
havia se mudado recentemente para LA, onde trabalhou na área de efeitos especiais dos filmes Terminator, Jurassic Park e Predator 2. Estava desistindo de ser músico quando conheceu Adam Jones, que o convidou para ingressar na banda. D'Amour era um excelente baixista de constante mau-humor - o que sempre acabava influenciando suas linhas de composição e encaixou perfeitamente ao teor pretendido pelos outros integrantes.

Era a primeira formação do Tool. O nome é faz referência à evolução através da dor (ou lacrimologia), e suas músicas serviriam como "ferramenta" (tool, em inglês) auxiliar na compreensão de tal evolução.


Undertow, o primeiro álbum não-censurado**, foi lançado em 1993. Algumas lojas trocaram a capa original (uma escultura de Adam Jones que lembra uma espécie de caixa torácica vermelha com costelas em forma de tentáculos) por um código de barras gigante.

Faz parte desse álbum a faixa Prison Sex, cujo clipe (abaixo) foi o primeiro inteiramente dirigido por Adam Jones. Assim, ele começava a forjar o estilo perturbador que marcaria os clipes da banda a partir de então.

1. "Intolerance" – 4:53
2. "Prison Sex" – 4:56
3. "Sober" - 5:06
4. "Bottom" - 7:13
5. "Crawl Away" - 5:29
6. "Swamp Song" - 5:31
7. "Undertow" - 5:21
8. "4°" - 6:02
9. "Flood" - 7:45
10. "Disgustipated" - 15:47




Em 1996, foi lançado Ænima (meu preferido ever). O nome é a junção das palavras anima (termo cunhado por Jung) e enema (inimigo, em inglês). Desde o lançamento de Undertow, boatos de toda sorte cercaram a banda: especulava-se que fossem satanistas e seu vocalista, James Maynard, dado a tendências mórbidas e sadomasoquistas.

Foi durante o processo de composição desse álbum que Paul D'Amour anunciou sua saída do Tool. Logo, seria substituído por Justin Chancellor, do Peach.

1. "Stinkfist" – 5:09
2. "Eulogy" – 8:25
3. "H." – 6:07
4. "Useful Idiot" – 0:38
5. "Forty Six & 2" – 6:02
6. "Message to Harry Manback" – 1:53
7. "Hooker with a Penis" – 4:31
8. "Intermission" – 0:56
9. "jimmy" – 5:22
10. "Die Eier von Satan" – 2:16
11. "Pushit" – 9:55
12. "Cesaro Summability" – 1:26
13. "Ænema" – 6:37
14. "(-) ions" – 3:58
15. "Third Eye" – 13:47

Como não poderia deixar de ser, o lançamento de Ænima esteve cercado por polêmicas e censura. A começar pelo clipe de Stinkfist (abaixo), rejeitado pela MTV sob a alegação de que o título da faixa seria ofensivo demais; após protestos de fãs, o clipe passou a ser exibido com o nome Track #1.




Após uma longa pausa, Lateralus foi lançado no final de 2001. A pausa forçada ocorreu devido a processos judiciais entre a banda e sua gravadora, a Volcano Records. Foi durante esse recesso de cinco anos que surgiu A Perfect Circle, o mais famoso projeto de Maynard.

A música-título de Lateralus foi concebida de acordo com a escala fibonacci, mas suspeita-se que também seja uma referência à seqüência de cores que podem ser vistas por um indivíduo sob a influência de LSD.

1. "The Grudge" – 8:36
2. "Eon Blue Apocalypse" – 1:04
3. "The Patient" – 7:13
4. "Mantra" – 1:12
5. "Schism" – 6:47
6. "Parabol" – 3:04
7. "Parabola" – 6:03
8. "Ticks & Leeches" – 8:10
9. "Lateralus" – 9:24
10. "Disposition" – 4:46
11. "Reflection" – 11:07
12. "Triad" – 8:47
13. "Faaip de Oiad" – 2:39

Muitos fãs consideram este o melhor álbum do Tool.





Em 2006 foi lançado 10.000 Days, o mais recente álbum de estúdio da banda. O título alude à mãe de Maynard, Marie, à qual dedicou as faixas Wings for Marie (pt 1) e 10.000 Days (Wings pt 2). Marie sofria de uma paralisia que a incapacitava parcialmente; o período entre a paralisia e sua morte foi de 27 anos - ou seja: 10.000 dias.

Maynard já havia escrito sobre sua mãe em álbuns anteriores.

1. "Vicarious" – 7:06
2. "Jambi" – 7:28
3. "Wings for Marie (Pt 1)" – 6:11
4. "10,000 Days (Wings Pt 2)" – 11:13
5. "The Pot" – 6:21
6. "Lipan Conjuring" – 1:11
7. "Lost Keys (Blame Hofmann)" – 3:46
8. "Rosetta Stoned" – 11:11
9. "Intension" – 7:21
10. "Right in Two" – 8:55
11. "Viginti Tres" – 5:02





(*) que, na verdade, nem é
movimento - é a liberdade total em prol do momento.
(**) em 1992, havia sido lançado o EP
Opiate.

O Enigma de Adamagildo

De galopes pela estrada do sertão de lugar nenhum, vai Adamagildo perseguindo o cumprimento de seu destino: tornar-se o padre-da-cidade.
- Não é lá um destino muito ambicioso, resmungou Adamagildo, carregando a respiração.
- Por causdisso não há de ser dificultoso, completou.

No caminho para a sua gloriosa meta, Adamagildo deparou-se com uma encruzilhada estranha: os dois únicos caminhos possíveis eram exatamente iguais, como se um fosse o reflexo do outro. De um lado, uma estrada de terra que seguia até onde a vista alcança, de outro, outra estrada de terra infindável. Adamagildo, contudo, não percebeu o que estava logo abaixo de seu nariz, diante de seus olhos - alguém. Visivelmente, naturalmente, tinha uma pessoa logo alí e, ao lado desse alguém, uma placa de madeira que continha a seguinte inscrição: "Oi, me chamam de Duas-Caras, pois, ás vezes falo a verdade e ás vezes minto. Você não pode saber quando assumo uma cara ou quando assumo outra cara. Além disso, caro transeunte, como sou de madeira, teimoso como uma porta, e intransigente, só aceito que o senhor faça somente uma pergunta."

Adamagildo adquiriu perplexidade e questionou a si mesmo:
- E agora, razão?
E sentou, apoiou seus cotovelos esfolados em seu joelho, fechou sua aspera mão de unhas amareladas e repousou sua cabeça de jaca amassada sobre suas mãos. Seus olhos contemplavam o horizonte, via tudo e nada ao mesmo tempo, enxergava para dentro, invertia a direção, vasculhava suas entranhas. Matutava, quebrava a caxola, apertava o melão.
Pensou que tinha diante de si a oportunidade de realizar aquilo para o qual sempre se viu induzido. Ser padre-da-cidade, essa era sua sina. Sonhava com o momento de sua redenção. Imaginava-se como o homem encarregado de auxiliar espiritualmente os habitantes da cidade. Ele seria um guia, ele portaria a verdade sobre a vida e a morte, daria conselhos para os aflitos de alma... Não que ele acreditasse mesmo em toda a doutrina. Mas ele sentia, apesar disso, que essa era a vocação pela qual sua vida deveria ser determinada. E, com essa conclusão, pela primeira vez, Adamagildo resolveu recorrer a sabedoria divina:
- Sinhô Jesuis, tô aqui com esse duas-caras - que, aliás, lembra muito aquele teu amigo Judas - e não consigo, de jeito maneira, fazer a pergunta certa. O Sinhô poderia, silenciosamente, me soprar?
E Jesuis, silenciosamente, sentenciou:
- Eu sou o caminho, a verdade e a luz.
E sumiu da imaginação de nosso herói.

Adamagildo, desnorteado e sem saber muito bem o que fazer com a dica divina, resolve, por via das dúvidas, arriscar sua pergunta e colocar em jogo seu destino. Preparado para agir, Adamagildo pergunta para o tal de duas-cara:
- Pra onde Jesuis foi?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Rainy day song

Numa sexta de tanta chuva pós-temporal e dias incertos, Nico.



These Days

I've been out walking
I don't do too much talking
These days, these days.
These days I seem to think a lot
About the things that I forgot to do
And all the times I had the chance to.

I've stopped my rambling,
I don't do too much gambling
These days, these days.
These days I seem to think about
How all the changes came about my ways
And I wonder if I'll see another highway.

I had a lover,
I don't think I'll risk another
These days, these days.
And if I seem to be afraid
To live the life that I have made in song
It's just that I've been losing so long.
La la la la la, la la.

I've stopped my dreaming,
I won't do too much scheming
These days, these days.
These days I sit on corner stones
And count the time in quarter tones to ten.
Please don't confront me with my failures,
I had not forgotten them.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Lista dos dez livros mais vendidos em sebos

1º Graciliano Ramos - Vidas Secas
2º George Orwell - A Revolução dos Bichos
3º Gabriel García Márquez - Cem Anos de Solidão
4º George Orwell - 1984
5º Jorge Amado - Capitães da Areia
6º Aldous Huxley - Admirável Mundo Novo
7º Paulo Freire - Pedagogia da Autonomia
8º Clarice Lispector - A Hora da Estrela
9º Celso Furtado - Formação Economica do Brasil
10º Dale Carnegie - Como fazer amigos e influenciar pessoas

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

MIOOOLOOOOSSSSSSSS

preciso de mais miolos.
também aceito cafeína e


(via ERROR 888)

No trabalho

Kafka time chegou.

Deixo pra vocês um poema que encontrei aqui no gabinete.
Não tem autor nem nada. É desconhecido mas é bom.

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Ex-noitada

Num dia, tragos e tragadas de cigarro,
No outro, ex-tragos e cigarros ex-tragados.

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Postarei mais, porque o que mais tem aqui é literatura.

domingo, 22 de agosto de 2010

ARDA - Vieaje a la Tierra

Drogas? Tem coisas bem piores... como medo e ignorância, por exemplo.

Genesis: 19/06/2010


CAOS: COMEÇA CONTAGEM PARA O JUÍZO FINAL DOS NÃO-SEGUIDORES DO SEMI-DEUS RÉPTIL
ou
praqueles que lembram do momento da Iluminação.

Francesquinha estava sexxxy e mereceu foto

o chão também mereceu foto



série psycho trip to zaffari

The Zaffari Lights (starred by Alex DeeJah & Sweet Sabrina /
with Suspicious Blondie as
The Boss)


só tinha gente esquisita na rua, como sempre
(vista da sacada do Mr. Dam)


de volta, enfim, ao lar das pessoas regulares

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Angeli e a junkie life

Trecho de entrevista cedida por Angeli à revista Trip (na íntegra aqui).

***

Legalização das drogas?

Fiz até charge sobre isso, quando uns traficantes queimaram uns ônibus lá no Rio. Era uma cena de anarquia, ônibus pegando fogo e tal... Aí um cara falava: “Como você pode ser a favor da legalização? Está querendo que a gente viva numa anarquia?”... A gente já vive na anarquia, só que é anarquia de direita. Traficantes são de direita, querem que as coisas continuem assim para sempre, é o negócio.

Quando experimentou maconha?
Tinha uns 12 anos. Um primo tinha uma baganinha... Lembro que experimentei e ficava olhando no espelho pra ver se minha cara mudava ou entortava... Não entortou. Acho que é por isso que fumo diariamente até hoje...

Você usou muita cocaína.
Consumi todo dia por uns dez anos, tenho tendência a viciar nas coisas. Parei há muito tempo, mas de vez em quando parece que ainda sinto o cheiro...

Teve alguma overdose?
Já achei que tava tendo um ataque cardíaco. Morei dois anos com um cara que sempre tinha uma pacoteira de pó. Ele ia viajar eeu assaltava a gaveta dele. Uma vez, fui lá e mandei uma fileira enorme. Gelou meu corpo inteiro, garganta, peito, tudo. Falei, fodeu! Achei que era um ataque mesmo. Fiquei ali parado um tempão, passando mal. Era xilocaína, o cara ia misturar. Quando passou, tomei um banho e fui na verdadeira.

Como conseguiu parar?
Tava há umas três noites virado, uma caveira ambulante. Meu filho, com 4 anos, acorda todo feliz: “Vamos na pracinha?”. Fui e passei muito mal, queda de pressão, suor... Meu filho me puxando e eu sem energia nenhuma. Achei degradante ver ele brincando sozinho e o pai assim mal. Decidi que nunca mais usaria. Consegui parar sem a dificuldade que todo mundo dizia que seria. Pra me defender, desenvolvi um discurso.

Qual?
Que cocaína é de direita e maconha é de esquerda. Maconha é socializante, todo mundo fuma no mesmo baseado e dá risada depois. Cocaína, não. É de quem tem, e você se submete a esse poder pra cheirar uma fileirinha no cantinho do mármore do banheiro.

“A cocaína me debilitou um pouco.
Maltratei meu pulmão mais que um simples fumante.”


Heroína?
Experimentei uma vez, esfregando na gengiva, não bateu... Tenho problema com agulha... Existia um negócio chamado Pervitin, uma ampolinha que toma nos canos, lá na Casa Verde todo mundo tomava. Como tenho medo de injeção, tomei pouquíssimo, nunca foi o meu barato. Já estava meio contra essa ideia de drogas desse tipo, que encampam você todo e você não consegue reagir.

Tipo ácido, ayahuasca?
Devo ter tomado uns 15 ácidos na vida. Tive viagens maravilhosas, nenhuma bad trip. Mas tenho essa coisa de virginiano, parece que nada me pega por completo, não me deixo levar. Tomei Daime uma vez, porque o Glauco era ligado a isso. Não senti absolutamente nada. Uma vez, tava com ele e mais umas pessoas, à noite numa praia. Todo mundo tinha tomado. O Glauco falava: “Olha isso...”. E eu: “Glauco, isso já tá aí faz tempo, essa Lua é bonita com ou sem essa porra!” [risos]. Ele ficava puto.
"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro"


Um indio qualquer.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pimpo Jorge

Pimpo Jorge teve problemas na infância. Disseram que ele não ia ser nada.
Pimpo Jorge cresceu e teve problemas na adolescência. Disseram que ele não ia ser nada.
Pimpo Jorge cresceu e teve problemas na vida adulta. Disseram que ele não ia ser nada.

Ele teve problemas com mulheres. Virou gay.
Ele teve problemas com homens. Virou hetero.

Ele teve problemas com a rotina. Desorganizou-a intensamente.
Ele teve problemas com o caos. Organizou-o completamente.

Ele teve problemas de saúde. Virou vegetariano.
Ele estava saudável demais. Virou fumante.

Ele teve problemas com a educação. Alfabetizou-se.
Ele teve problemas com a leitura. Queimou os livros da estante.

Ele não conseguiu trabalhar. Virou vagabundo.
Ele não conseguiu ser vagabundo. Virou estudante.

Ele teve problemas em ficar sozinho. Arranjou amigos.
Ele teve problemas com os amigos. Arranjou uma amante.

Ele teve problemas com a amante. Dela livrou-se.
Ele teve problemas com a solidão. Tomou muito doce.

Ele teve problemas com as drogas. Encaretou-se.
Ele teve problemas com a igreja. Satanizou-se.

Ele teve problemas com Satã. Cristianizou-se.
Ele teve problemas com os cristãos. Melhor se ateu fosse.

Ele teve problemas na sua cidade. Foi para o mar, mudou-se.
Ele teve problemas no mar. Pobrezinho, afogou-se.

Que pena, disseram que ele tinha um futuro brilhante pela frente.

NO - the piper never dies!*

A gravadora EMI vai lançar uma coletânea enfocando os primeiros anos do grupo Pink Floyd, quando ainda contava com o guitarrista Syd Barrett.

An introduction to Syd Barrett irá trazer clássicos dos primeiros dois discos do Pink Floyd, The Piper at the Gates of Dawn (1967) e A Saucerful of Secrets (1968), e os dois discos solo lançados por Syd, Madcap Laughs e Barrett, ambos de 1970.

O material foi selecionado pela gravadora ao lado de David Gilmour; além das músicas já conhecidas, a coletânea trará material raro. Entre as faixas desconhecidas, Bob Dylan Blues, música solo nunca lançada oficialmente, e Apples and Oranges, do Pink Floyd.Todas as faixas foram remasterizads e algumas passaram por nova mixagem, sendo que Here I Go ganhou uma nova linha de baixo, criada e executada pelo próprio Glimour.

Outro registro raro, a longa Rhamadan (de 20 minutos), estará disponível para download àqueles que comprarem o disco. A faixa foi produzida por Peter Jenner, produtor do primeiro disco do Floyd, e conta com a participação do percussionista Steve “Peregrine” Took, parceiro de Marc Bolan no duo Tyrannosaurus Rex (pré T-Rex).

O lançamento de An introduction to Syd Barrett está previsto para 4 de outubro. A capa é de autoria do fotógrafo e desenhista Storm Thorgerson (que concebeu a maioria das capas do Pink Floyd e algumas de outros artistas, como Led Zeppelin, Genesis, 10cc, Yes, Peter Gabriel, Black Sabbath, Paul McCartney, Syd Barrett, Styx, Muse e Dream Theater - só pra citar alguns). O disco colocará novamente o nome de Barrett em evidência, ele que é considerado uma espécie de gênio lunático que precisou se afastar da música devido a problemas psiquiátricos e uso abusivo de LSD.

Atom Heart Mother é estampado por

uma das fotos mais famosas de Storm

Syd Barrett morreu em 2006, aos 60 anos, vítima de um câncer no pâncreas. Ele se dedicava à pintura desde que se afastou dos palcos. Em sua homemagem, o Pink Floyd lançou Wish You Were Here (1975).

fonte

(*) claro que eu não ia deixar passar um trocadilho infame com a letra aquela do Edguy, né?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Terminator batteries

TEXAS SUCKS

TEXAS SUCKS é o blog do Ismael Caneppele.
Ele é autor do livro e co-roteirista do filme Os Famosos e os Duendes da Morte. O texto abaixo é dele.


***

IT’S GONNA TAKE A LOT OF LOVE

agora você dorme no quarto. Na sala roda nashvile skyline, o disco do Dylan que compramos ontem à tarde. Os termômetros do seu corpo começam a baixar à medida que a volta para casa se anuncia. Você abre os olhos e se arrepende por todas as coisas que não fizemos aqui e depois diz que sente saudade de nós dois deitados na cama da nossa casa. eu não sei em que cidade exata fica a nossa casa. prefiro desconhecer a longitude do nosso conforto para continuar viajando à procura de um nós que ainda não ousamos conhecer. Casamentos também foram feitos para terminar. Depois você abre os olhos e pergunta se eu preferia ter saído a ter ficado cuidando de você e eu digo que não. Nada nessa cidade me interessa e eu prefiro contar os dias antes de ir embora. pelo menos compramos uma vitrola portátil o que significa que, de hoje em diante, nunca mais viajaremos sem nossos discos. Você abre os olhos e dentro deles habita o cansaço dos hospitais, dos remédios, dos efeitos colaterais manchando a pele branca do seu rosto. eu sorrio e digo que vai passar. Você esfrega a palma das mãos sobre o tecido gasto da calça jeans e confessa, olhando para o chão, que um pouco de você também deve morrer nessa cidade. as pedras acumuladas dentro dos seus rins ficarão para sempre aqui, vagando pelos encanamentos da ilha. O calor na sua testa ficará aqui, tatuado nos travesseiros desse apartamento em wall street court. hoje seus olhos mal conseguiram abrir quando me perguntaram se eu preferia estar sem você. Seus ouvidos não escutaram quando meus olhos disseram que não.

Os dias tem sido uma espécie estranha de espera para que algo termine ou para que algo comece a acontecer. Algo que lutamos todos os dias para terminar a tempo ou algo que precisamos começar de uma vez por todas. Um casamento recente ou uma amizade de muitos anos. É preciso se perguntar todos os dias, sempre um pouco mais, se ainda faz algum sentido continuarmos existindo. É preciso abrir, todos os dias, as janelas desse décimo primeiro andar. Escreva cem vezes “a queda nao doerá” e salte sem medo de sobreviver. Fatalidades acontecem, você me disse uma vez, deitada na cama daquele hospital de lajeado com os dois pulsos enfaixados olhando para o chão. Hoje estamos aqui. Sempre que o metrô atravessa o túnel sob o rio Hudson, você pega na minha mão e eu procuro, sem que você note, pelas cicatrizes nos seus punhos. Só para ter certeza de que ainda precisamos estar juntos. Só para ter certeza de que você ainda é você. Você olha nos meus olhos e eu tento encontrar por onde você foge de mim. Você diz que não saberia viver sem me chamar de nós. você me agradece por eu continuar existindo e eu digo “de nada” para não gritar “foda-se eu”.

Você levanta. Come uma granola com iogurte. Depois vira o disco para mim. me pergunta que horas são só para lembrar de que talvez eu devesse estar deitado com você. Monitorando seus batimentos cardíacos. Calculando quantos graus seu sangue ferveu na última meia hora. Quando vira o disco você percebe que, do outro lado do vidro, existe um rio. Você comenta que a cidade está bonita do outro lado da ponte. Você intui que a vida aconteça em algum lugar longe dessa ilha. Manhatan, estamos cansados de você. A febre do seu corpo está baixando, pelo menos. Pelo menos tranquei as janelas do nosso quarto. Não adianta aumentar o volume do toca-discos, eu te escutarei tentando cair. O peso dos seus passos atravessando o corredor anunciam que nem tudo está perdido. Pelos menos você não notou o copo de vinho do lado do meu computador. Pelo menos você não notou que já estou bêbado. Pelo menos você não sabe que logo iremos partir. pelo menos você não sabe. há conforto na ignorância sobre os diagnósticos.

Ecce homo (por Tuane Eggers)

domingo, 15 de agosto de 2010

Esboço de um Ensaio sobre a Fofoca

Parte X - "Mas não conta para ninguém, tá?"

Aliviada, Senhora Bety abraçou sua velha amiga. Fechou os olhos para esconder a timidez que sentiu ao sussurrar um segredo que lhe dizia respeito. A velha amiga, Dona Matraca, também fechou seus olhos ao abraçá-la para mostrar complacência e assim oficializar o pacto secreto que acaba de ser instaurado.
D. Matraca, com os olhos semi-cerrados, retorceu o canto esquerdo inferior de seus lábios e respirou fundo e expressivamente transmitindo uma estranha ligação sentimental de pretensa fidelidade.
E disse, por fim, abrindo os olhos vagarosamente:
- Pode deixar, amiga, que eu não conto para ninguém.
Se despediram.
Sra. Bety foi trabalhar com sua cara frustrada de sempre. D. Matraca voltou para sua casa para não perder o programa da Silvia Popovich.
Sra. Bety, enquanto trabalhava, não pensava. Em casa, depois do trabalho, refletiu sobre D. Matraca. Ela sabia que D. Matraca não tinha lá bons precedentes e que poderia acabar com sua vida caso resolvesse contar o segredo para alguém.
D. Matraca é uma mulher muito caridosa. Se esforça por ajudar outras pessoas e parece sempre colocar os assuntos na frente das coisas. Quero dizer - sem querer ofender D. Matraca - que ela sempre está a par do que ocorreu e sobretudo do que vai acontecer, antes mesmo de ter acontecido - isso não é um fato curioso?
(Bom, para apressar a estória eu mesmo posso contar o segredo. Aconteceu o seguinte: "o marido da outra fugiu com a irmã de seu melhor amigo. A outra quis vingá-lo e transou com o pai do seu marido. Seu melhor amigo se irritou e resolveu pegar a mãe do seu amigo. O marido e a irmã estão indo para o nordeste. A mãe e o pai se divorciaram. E o cachorro morreu.")
Infelizmente Sra. Bety não está mais aqui para confirmar minha estória.




The seventh seal

O mito dos Sete Selos é um conceito da mitologia cristã, onde um livro com sete selos é descrito (Apocalipse 5:1). A visão do Livro dos Sete Selos foi referida por João (um dos doze apóstolos de Jesus), no livro do Apocalipse (cuja origem do nome vem do grego αποκάλυψις e significa "revelação").

O livro dos Sete Selos foi aberto pelo Leão de Judá, ou seja, o Messias - Jesus Cristo:

"E um dos anciões disse até mim: Não chores eis que o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, venceu para abrir o livro e desatar os sete selos".(Apocalipse 5:5)

Cada abertura de um dos selos é seguida por um evento ou uma série de eventos (Apocalipse 6:1). Quando cada um dos quatro primeiros selos é aberto, um cavalo e seu cavaleiro aparecem. Estes são geralmente referidos como os Cavaleiros do Apocalipse (The Four Horsemen).
Na abertura do primeiro selo surge um cavalo branco, que representa o Anticristo, com sua falsa inocência e paz, que governa o mundo (Apocalipse 6:2).
Na segunda abertura do livro, surge outro cavalo, desta vez vermelho, ao qual foi dada a ordem de que tirasse a paz da Terra e que se matassem uns aos outros (Apocalipse 6:4).
Quando se abre o terceiro selo, João descreve um cavalo preto, que segurando uma balança faz ofertas exorbitantes, o que significaria a excassez dos produtos e seus preços imensos. Este cavalo representa a fome, a penúria, as trocas injustas (Apocalipse 6:4).
Na abertura do quarto selo surge o último dos quatro cavaleiros, que é a representação da fome, da peste e da destruição, do qual o que estava assentado sobre ele havia a palavra Morte, e o Inferno o seguia (Apocalipse 6:7-8).
A abertura do quinto selo é seguida por uma visão daqueles que foram "mortos por causa da palavra de Deus" (Apocalipse 6:9).
Quando o sexto selo é aberto, há um grande terremoto, e os sinais aparecem no céu. (Apocalipse 6:12,14) Além disso, 144.000 servos de Deus são "selados” nas suas testas, em Apocalipse 7:. Quando o sétimo e último selo é aberto, sete anjos com suas trombetas começam a soar, um por um.
Depois que soam as trombetas, seguem-se os seguintes eventos:
- Anjos derramam taças sobre a Terra, que significa a ira de Deus em 7 etapas (Cavaleiros do Apocalipse, Fome, Pestes, Terremotos, Maremotos, Aquecimento Global etc.).
- Governo do Anticristo por sete anos.

- Volta de Jesus Cristo e da Igreja a Terra.
- Governo Milenar de Jesus Cristo.

- Juízo Final
.
- Novo céu e nova terra
.
Espero que tenham gostado da aula de hoje, babes. Semana que vem, mitologia grega.

Enquanto alguém falava sobre a chamada revisão conservadora

Ele entrou na sala – na sala tão cheia de rostos vazios e descoloridos perdia-se tanto que reconhecia a si próprio apenas como ele. Aula de teorias que tentavam explicar os vazios e lhe auferir alguns por quês, pensou, e também pensou que poderia estar em casa bêbado no chão e no escuro. Perdeu-se em algum ponto entre a acomodação das elites cariocas e a relação das províncias enquanto o governo central com mão de ferro massacrava a todos. Estava frio. Ele olhava ao redor e percebeu, como nunca antes percebera, que toda a cor da sala concentrava-se num único ponto: as paredes eram bege, o piso era creme, as luminárias eram gelo: os únicos resquícios de cor estavam todos no quadro negro que era verde desbotado e empoeirado.
Estava caído e bêbado no chão escuro de casa, e era ele mesmo outra vez. De repente, olhou para o lado: ela estava ali, toda ela, bem ali.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Palestina, mon amour.

Para meu amigo do piso 5, pra não dizerem que não falei das flores



Palestina, mon amour.


Não sujarei esse momento com palavras.

Seus olhos de tâmaras frescas partilham angustia e esperança. Como um fruto de regiões áridas. Sua, minha angustia e, sempre, esperança refletida? É ai, nesse lenhoso e escuro ramo de oliveira arcaica que reside nossa diferença? Como um galho que se bifurca nossos caules compartilham a mesma seiva, embora estejam, irremediavelmente, separados? Nessa bifurcação é que insistimos e nos dividimos.

Não poluirei tua beleza mediterrânea com o meu pseudo-existencialismo-marxismo-de-segunda-mão.

Se você me fala das estrellas e de qualquer coisa de mística com a via láctea, e aponta:

- Ohh... la luna está exatamente sobre nóss.

E eu olhei e era verdade. A lua como um sol noturno resplandecia à pino. E minha cabeça desceu lentamente da lua circunavegando a via láctea, o cinturão e Orion, o rabo de Scopion e estrelinhas sem nome e foi dar nos seus cabelos cheirando a pó e flores selvagens. E meu olhar escorreu pela pele morena-de-sol do teu rosto e desceu pelo pescoço esguio e longo de quadro-de-modgliani. (Nesse momento enlacei minhas mão na sua cintura) e os meus olhos em surpresa e contentamento, como a de um menino, correu as pedrinhas do teu colar e vestiu teu vestido, simples e sujo. E, então, percebi teus seios (acho que suspirei) e depois o teu ventre e terminou nas tuas pernas de colosso-de-rodhes. (acho que você sorriu)

Eu pensei em mim e em você, e na Palestina bombardeada (numa noite como essa) explodindo em esgoto pela rua e mortes de crianças de cinco meses de idade, e velhos octogenários, e moços e moças (talvez, como você e como eu) e homens famintos e mulheres violadas. Com gazes tóxicos e mísseis imprecisos e tanques. Eu pensei: “E Se...”

E o momento do nosso beijo-de-amor se partiu entre a Palestina e o “Se...” eu vi seus olhos de tâmara seca lançados no chão.

Central elétrica de Battersea

Aposto que ninguém sabe onde fica, mas ah que já viram essa central elétrica muuuitas vezes na vida!


A famosa central elétrica fica em Londres. A foto foi tirada em dezembro de 76 e imortalizada em janeiro de 77, com o lançamento de Animals. O colossal porco rosado que aparece junto à fumaça é na verdade um balão cheio de hélio; estava amarrado a uma das chaminés, mas se desprendeu logo após o registro da foto; foi perseguido pelos helicópteros da polícia e voou livre até Kent, onde foi detido pelos tiras.

Após o episódio, não se teve mais notícias do porco.

Quanto à central elétrica, foi desativada e abandonada em 83, sendo às vezes utilizada para eventos artísticos e espetáculos. Também esteve presente nos filmes Sabotage, de Alfred Hitchcock; Help, de Richard Lester (com os Beatles como protagonistas); e Full Metal Jacket, de Stanley Kubrick.

As fotos abaixo são de autoria de Mark Obstfeld.

A hera faz com que o tanque pareça um mero souvenir,
deixado para trás após uma exposição de arte chinesa em 2006.

E se alguém aí se apaixonou e quer saber tuuudo sobre Battersea, pode visitar o site oficial da central elétrica. (se alguém fizer mesmo isso, vou chamar de doente pelo resto do mês)

O maluco do hall

Há algum tempo atrás, em um prédio desses que vemos em qualquer lugar cercado por outros muitos prédios espelhos deles mesmos, havia uma linda e calma monotonia, que se busca diariamente no nosso mundinho porto-roca-alegrense-brasileiro.
Neste prédio, todos acordavam pontualmente às 6h15, tomavam banho (ordenadamente) e faziam suas refeições. Cada um saía em direção às suas diferentes atividades diárias e, à noite, todos voltavam para suas aconchegantes camas, com lençóis lindamente bordados por suas próprias mãos ou mães.
Certa manhã, enquanto as moças escovavam os dentes nas pias especiais do banheiro feminino, uma delas percebeu uma distoante movimentação nos corredores da casa. Um maluco (sim, maluco!) havia levado uma barraca (imaginem!) para o hall de entrada do andar e ainda por cima se achava no direito de "acampar" em um lugar tão inapropriado!
A confusão na casa foi geral. Os moradores (com razão) começaram a falar somente sobre as maluquices daquele indíviduo e chamaram seguranças para tentar resolver a situação. Quando os seguranças se aproximaram da barraca, depararam-se com o maluco do hall estendendo algumas roupas num varal improvisado (sendo que existe uma lavanderia para os moradores!). Ao ver os seguranças, o maluco do hall começou a jogar prendedores de roupa e como não surtiu grande efeito, jogou até o balde. Os seguranças nada puderam fazer, afinal nunca tinham visto nada parecido. Os moradores, desesperados, chamaram a polícia federal. Quando os policiais chegaram, o maluco do hall jogou suas panelas (as quais recuperou durante a madrugada, para poder cozinhar e eventualmente jogar mais uma vez naqueles que se aproximassem).
O maluco do hall virou notícia. Logo, repórtes interessados nessa situação tão distoante da sociedade chegaram para entrevistar o maluco do hall. Obviamente, ele não deu entrevista e expressou a sua quotidiana reação de jogar objetos e esbravejar palavras de baixo calão (que não ouso nem pronunciar, ah!), expulsando os jornalistas.
No entanto, um repórter (muito esperto), escondeu-se dentro da casa para poder gravar o dia-a-dia do já muito famoso maluco do hall. Ele observou cada movimento do dito sujeito e depois lançou na mídia.
As pessoas ficaram enlouquecidas! Como um homem (adulto!) podia viver daquela maneira tão... sem regras?? Como ele conseguia não obedecer uma rotina? E ainda: por que ele fazia isso se ele tinha o direito de fazer todas as maravilhas que os outros faziam?
No dia seguinte ao lançamento do DVD O famoso caso do "maluco do hall", pesquisadores da mais conceituada faculdade da realidade local trouxeram lindos homens grandes com ferramentas específicas para capturar o maluco. A missão foi perfeitamente cumprida (graças a Deus!) e os adoráveis pesquisadores levaram o maluco embora.
Hoje, nós vivemos nesta casa na mais perfeita calma novamente e esperamos que nunca mais aconteça algo parecido, pois não saberemos lidar com uma situação dessas outra vez. Agora, eu (e os outros moradores, claro, pois vivemos na coletividade) vivo muito melhor e tenho certeza de que tudo está na sua perfeita ordem.
Espero que tudo continue assim.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Peixaria

Peixes congelados navegam num mar despedido. As mãos rudes de meu pai descamavam

esses esquecimentos. Alguma coisa ocre na pia da nossa antiga casa relembra-me esse cheiro

visgento. Eu pensei em te partir, mas a Barracuda estendida no mostruário da peixaria não

deixou. Aqueles olhos grandes vidrados de repente me comoveram, e alguma coisa misteriosa e

magnífica se revelou para mim. As sardinhas ressequidas imitavam cardumes de sardinhas vivas

no meio de um Atlântico de fedor e gelos empoeirados. Eu cheguei a pensar em conter esse

flato, mas foi mais forte do que eu. E comecei a chorar por toda a inumanidade por detrás do

fato de se pescar-se Arubas com rede de arrastão e, também, porque eu tive a certeza de que

nenhuma delas nunca mais voltariam. E eu era como aquela Barracuda, fedorenta e estagnada.

O chão molhado e gosmento, parecia uma ululante lesma viva, e eu, que nunca tive nojo

de lesmas nem de peixarias, senti-me enjoar. Mas contive o refluxo acido da minha infância

solitária e desmedida, enquanto minha mãe ia coser braguilhas e barras não consangüíneas. E

ao meu redor senhoras distintas escolhiam salmões viracundos, e empregadas-domésticas-de-

R$450,00-ao-mês hesitam entre homicídios triplamente qualificados e os files de merluza. E

o peixeiro me pareceu ainda mais gordo e peludo do que de fato era, tal como a bucetinha da

Samatha lá do Coiote. Então, eu tive medo, e nojo, desse sujeito.

Pensei ver vermes se arrastando pelo chão em turbas agitadas e alegres. E eles subia pelo

meus sapatos sujos e avançavam pela barra da minha calça jeans. Vinha-me coisas estranhas à

mente e de repente eu era um Barack Obama disfarçando em confiança minhas mãos vazias

de propostas concretas, enquanto recomendava ao Pentágono planejar a invasão do Irã. E essa

verdade revelada como náusea era um Sartre dizendo “We can!”. Já não podia mais prosseguir

com aquilo tudo, o conjunto das minhas possibilidades fracassadas materializaram-se e voam

em vórtice em torno da minha cabeça, e, pareceram para mim, como um jantar arroz-feijão-e-

bije. Eu já não tinha mais nada há fazer naquela peixaria e, agora, precisava fugir.

Mas os vermes me contiveram e perguntavam qualquer coisa inútil e sarcástica, e riam-se e a

pele daquela lesma gigantesca me prendia na sua gosma, que era morna. Veio-me uma cena

num filme, que já não me lembro mais qual é, em que um sujeito entra em uma buceta gigante.

Eu me peguei tentando convencer-me de que podia lutar contra aqueles vermes, e a lesma-

buceta gigante para obter novamente uma paz que nunca tive, eu me sentia ridículo como

se tentasse convencer alguém de que o Senado era realmente um mal necessário. Eu já não

tinha mais nada a fazer naquela peixaria, mas o visgo dos peixes mortos, a lesma, os vermes e

a buceta gigante não me deixavam sair. Então, eu percebi que nem as empregadas domésticas,

nem as madames, nem o peixeiro suspeitavam a minha tristeza, ninguém se importava, ou,

ao menos, pareciam se importar com o fato que eu estava nu e sujo, de que não tinha futuro

algum, de que o presente não passava de uma coleção de peixes mortos esquecendo lagos

de bobas asmáticas e faturas de cartão-de-crédito-que-eu-não-vou-pagar. E aquilo era mais

inumano do que o que faziam com as Arubas. Mas, nem eu, nem as Arubas, tínhamos para

onde fugir. E as coisas continuam iguais ao meu redor. Peixes despedidos navegando num

mar congelado...

14 e 15 de agosto, 2009.