domingo, 15 de agosto de 2010

Esboço de um Ensaio sobre a Fofoca

Parte X - "Mas não conta para ninguém, tá?"

Aliviada, Senhora Bety abraçou sua velha amiga. Fechou os olhos para esconder a timidez que sentiu ao sussurrar um segredo que lhe dizia respeito. A velha amiga, Dona Matraca, também fechou seus olhos ao abraçá-la para mostrar complacência e assim oficializar o pacto secreto que acaba de ser instaurado.
D. Matraca, com os olhos semi-cerrados, retorceu o canto esquerdo inferior de seus lábios e respirou fundo e expressivamente transmitindo uma estranha ligação sentimental de pretensa fidelidade.
E disse, por fim, abrindo os olhos vagarosamente:
- Pode deixar, amiga, que eu não conto para ninguém.
Se despediram.
Sra. Bety foi trabalhar com sua cara frustrada de sempre. D. Matraca voltou para sua casa para não perder o programa da Silvia Popovich.
Sra. Bety, enquanto trabalhava, não pensava. Em casa, depois do trabalho, refletiu sobre D. Matraca. Ela sabia que D. Matraca não tinha lá bons precedentes e que poderia acabar com sua vida caso resolvesse contar o segredo para alguém.
D. Matraca é uma mulher muito caridosa. Se esforça por ajudar outras pessoas e parece sempre colocar os assuntos na frente das coisas. Quero dizer - sem querer ofender D. Matraca - que ela sempre está a par do que ocorreu e sobretudo do que vai acontecer, antes mesmo de ter acontecido - isso não é um fato curioso?
(Bom, para apressar a estória eu mesmo posso contar o segredo. Aconteceu o seguinte: "o marido da outra fugiu com a irmã de seu melhor amigo. A outra quis vingá-lo e transou com o pai do seu marido. Seu melhor amigo se irritou e resolveu pegar a mãe do seu amigo. O marido e a irmã estão indo para o nordeste. A mãe e o pai se divorciaram. E o cachorro morreu.")
Infelizmente Sra. Bety não está mais aqui para confirmar minha estória.




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