sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Palestina, mon amour.

Para meu amigo do piso 5, pra não dizerem que não falei das flores



Palestina, mon amour.


Não sujarei esse momento com palavras.

Seus olhos de tâmaras frescas partilham angustia e esperança. Como um fruto de regiões áridas. Sua, minha angustia e, sempre, esperança refletida? É ai, nesse lenhoso e escuro ramo de oliveira arcaica que reside nossa diferença? Como um galho que se bifurca nossos caules compartilham a mesma seiva, embora estejam, irremediavelmente, separados? Nessa bifurcação é que insistimos e nos dividimos.

Não poluirei tua beleza mediterrânea com o meu pseudo-existencialismo-marxismo-de-segunda-mão.

Se você me fala das estrellas e de qualquer coisa de mística com a via láctea, e aponta:

- Ohh... la luna está exatamente sobre nóss.

E eu olhei e era verdade. A lua como um sol noturno resplandecia à pino. E minha cabeça desceu lentamente da lua circunavegando a via láctea, o cinturão e Orion, o rabo de Scopion e estrelinhas sem nome e foi dar nos seus cabelos cheirando a pó e flores selvagens. E meu olhar escorreu pela pele morena-de-sol do teu rosto e desceu pelo pescoço esguio e longo de quadro-de-modgliani. (Nesse momento enlacei minhas mão na sua cintura) e os meus olhos em surpresa e contentamento, como a de um menino, correu as pedrinhas do teu colar e vestiu teu vestido, simples e sujo. E, então, percebi teus seios (acho que suspirei) e depois o teu ventre e terminou nas tuas pernas de colosso-de-rodhes. (acho que você sorriu)

Eu pensei em mim e em você, e na Palestina bombardeada (numa noite como essa) explodindo em esgoto pela rua e mortes de crianças de cinco meses de idade, e velhos octogenários, e moços e moças (talvez, como você e como eu) e homens famintos e mulheres violadas. Com gazes tóxicos e mísseis imprecisos e tanques. Eu pensei: “E Se...”

E o momento do nosso beijo-de-amor se partiu entre a Palestina e o “Se...” eu vi seus olhos de tâmara seca lançados no chão.

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