sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Continho Piegas

Bateu e entrou no apartamento com a habitual garrafa de fim de semana oferecendo riso cansado e gole. Sentou no primeiro lugar livre e disse “e aíí” para o anfitrião e o outro convidado. Este folhava uma prosa deitado num sofá enquanto tentava equilibrar a xícara de café e o cigarro nas mãos. Não participava da conversa nova.

Ela bateu logo depois sorrindo bonito ao anfitrião até ficar azeda, franzir os olhos e dizer: - que cheiro podre é esse? Se o convidado da garrafa disse ter sentido também quando chegou mas preferido calar, o anfitrião disse não saber de onde vinha o azedo e o convidado do café continuou lutando com seus vícios, calado.

A contragosto ela trocou de assunto e falou da manipulação da mídia que estava acontecendo com alguém famoso, falou também que um apresentador de TV teria dito que todos os criminosos, estupradores e afins eram todos ateus, até cair na idéia de que os criminosos eram miseráveis e os miseráveis certamente sofrem. Ia já falando dos muçulmanos quando estacou: - mas que catinga imunda! Parece chulé com pipoca de queijo e lixo. De onde vem isso?

As fuças instintivamente socializaram-se em busca da origem do mal. - Não é da geladeira, disse o convidado da garrafa. - Não vem da janela, disse ela. O anfitrião, ciente das possibilidades olfativas do seu apartamento, logo foi direcionado até o sofá, melhor, até o convidado que não era mais o do café, nem do livro e do cigarro, mas o que bebia a garrafa de vinho sonhosamente.

-Cara, tu tá cagado? Que merda é essa? Disse o anfitrião indignado.

-Foi mal gurizada, um mendigo me abraçou antes, respondeu o fedorento.

-Por que, disse um?

-Porque caiu da minha mão uma moeda de um pila e eu não queria pegar de volta, respondeu.

Só sílabas falidas até todos calarem-se.

Ela disse depois: - que fóóda meu! Olha que situação! A gente devia escrever isso!

O escritor abre uma carteira de cigarros e uma garrafa de cerveja olhando imperturbado para o que acaba de escrever. No conforto de um criador. Acha boa a idéia desse texto que lhe surgiu ao “dar” aquela moeda de R$ 1,00.

Ad infinitum?

4 comentários: