quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Angeli e a junkie life

Trecho de entrevista cedida por Angeli à revista Trip (na íntegra aqui).

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Legalização das drogas?

Fiz até charge sobre isso, quando uns traficantes queimaram uns ônibus lá no Rio. Era uma cena de anarquia, ônibus pegando fogo e tal... Aí um cara falava: “Como você pode ser a favor da legalização? Está querendo que a gente viva numa anarquia?”... A gente já vive na anarquia, só que é anarquia de direita. Traficantes são de direita, querem que as coisas continuem assim para sempre, é o negócio.

Quando experimentou maconha?
Tinha uns 12 anos. Um primo tinha uma baganinha... Lembro que experimentei e ficava olhando no espelho pra ver se minha cara mudava ou entortava... Não entortou. Acho que é por isso que fumo diariamente até hoje...

Você usou muita cocaína.
Consumi todo dia por uns dez anos, tenho tendência a viciar nas coisas. Parei há muito tempo, mas de vez em quando parece que ainda sinto o cheiro...

Teve alguma overdose?
Já achei que tava tendo um ataque cardíaco. Morei dois anos com um cara que sempre tinha uma pacoteira de pó. Ele ia viajar eeu assaltava a gaveta dele. Uma vez, fui lá e mandei uma fileira enorme. Gelou meu corpo inteiro, garganta, peito, tudo. Falei, fodeu! Achei que era um ataque mesmo. Fiquei ali parado um tempão, passando mal. Era xilocaína, o cara ia misturar. Quando passou, tomei um banho e fui na verdadeira.

Como conseguiu parar?
Tava há umas três noites virado, uma caveira ambulante. Meu filho, com 4 anos, acorda todo feliz: “Vamos na pracinha?”. Fui e passei muito mal, queda de pressão, suor... Meu filho me puxando e eu sem energia nenhuma. Achei degradante ver ele brincando sozinho e o pai assim mal. Decidi que nunca mais usaria. Consegui parar sem a dificuldade que todo mundo dizia que seria. Pra me defender, desenvolvi um discurso.

Qual?
Que cocaína é de direita e maconha é de esquerda. Maconha é socializante, todo mundo fuma no mesmo baseado e dá risada depois. Cocaína, não. É de quem tem, e você se submete a esse poder pra cheirar uma fileirinha no cantinho do mármore do banheiro.

“A cocaína me debilitou um pouco.
Maltratei meu pulmão mais que um simples fumante.”


Heroína?
Experimentei uma vez, esfregando na gengiva, não bateu... Tenho problema com agulha... Existia um negócio chamado Pervitin, uma ampolinha que toma nos canos, lá na Casa Verde todo mundo tomava. Como tenho medo de injeção, tomei pouquíssimo, nunca foi o meu barato. Já estava meio contra essa ideia de drogas desse tipo, que encampam você todo e você não consegue reagir.

Tipo ácido, ayahuasca?
Devo ter tomado uns 15 ácidos na vida. Tive viagens maravilhosas, nenhuma bad trip. Mas tenho essa coisa de virginiano, parece que nada me pega por completo, não me deixo levar. Tomei Daime uma vez, porque o Glauco era ligado a isso. Não senti absolutamente nada. Uma vez, tava com ele e mais umas pessoas, à noite numa praia. Todo mundo tinha tomado. O Glauco falava: “Olha isso...”. E eu: “Glauco, isso já tá aí faz tempo, essa Lua é bonita com ou sem essa porra!” [risos]. Ele ficava puto.

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