sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O maluco do hall

Há algum tempo atrás, em um prédio desses que vemos em qualquer lugar cercado por outros muitos prédios espelhos deles mesmos, havia uma linda e calma monotonia, que se busca diariamente no nosso mundinho porto-roca-alegrense-brasileiro.
Neste prédio, todos acordavam pontualmente às 6h15, tomavam banho (ordenadamente) e faziam suas refeições. Cada um saía em direção às suas diferentes atividades diárias e, à noite, todos voltavam para suas aconchegantes camas, com lençóis lindamente bordados por suas próprias mãos ou mães.
Certa manhã, enquanto as moças escovavam os dentes nas pias especiais do banheiro feminino, uma delas percebeu uma distoante movimentação nos corredores da casa. Um maluco (sim, maluco!) havia levado uma barraca (imaginem!) para o hall de entrada do andar e ainda por cima se achava no direito de "acampar" em um lugar tão inapropriado!
A confusão na casa foi geral. Os moradores (com razão) começaram a falar somente sobre as maluquices daquele indíviduo e chamaram seguranças para tentar resolver a situação. Quando os seguranças se aproximaram da barraca, depararam-se com o maluco do hall estendendo algumas roupas num varal improvisado (sendo que existe uma lavanderia para os moradores!). Ao ver os seguranças, o maluco do hall começou a jogar prendedores de roupa e como não surtiu grande efeito, jogou até o balde. Os seguranças nada puderam fazer, afinal nunca tinham visto nada parecido. Os moradores, desesperados, chamaram a polícia federal. Quando os policiais chegaram, o maluco do hall jogou suas panelas (as quais recuperou durante a madrugada, para poder cozinhar e eventualmente jogar mais uma vez naqueles que se aproximassem).
O maluco do hall virou notícia. Logo, repórtes interessados nessa situação tão distoante da sociedade chegaram para entrevistar o maluco do hall. Obviamente, ele não deu entrevista e expressou a sua quotidiana reação de jogar objetos e esbravejar palavras de baixo calão (que não ouso nem pronunciar, ah!), expulsando os jornalistas.
No entanto, um repórter (muito esperto), escondeu-se dentro da casa para poder gravar o dia-a-dia do já muito famoso maluco do hall. Ele observou cada movimento do dito sujeito e depois lançou na mídia.
As pessoas ficaram enlouquecidas! Como um homem (adulto!) podia viver daquela maneira tão... sem regras?? Como ele conseguia não obedecer uma rotina? E ainda: por que ele fazia isso se ele tinha o direito de fazer todas as maravilhas que os outros faziam?
No dia seguinte ao lançamento do DVD O famoso caso do "maluco do hall", pesquisadores da mais conceituada faculdade da realidade local trouxeram lindos homens grandes com ferramentas específicas para capturar o maluco. A missão foi perfeitamente cumprida (graças a Deus!) e os adoráveis pesquisadores levaram o maluco embora.
Hoje, nós vivemos nesta casa na mais perfeita calma novamente e esperamos que nunca mais aconteça algo parecido, pois não saberemos lidar com uma situação dessas outra vez. Agora, eu (e os outros moradores, claro, pois vivemos na coletividade) vivo muito melhor e tenho certeza de que tudo está na sua perfeita ordem.
Espero que tudo continue assim.

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