quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A luxúria de Lola

Eu era um cara pacífico, amoroso até. Mas Lola, quando apareceu na porta do meu quarto no meio da madrugada, mudou tudo. Tinha a cara de uma louca indiferente com a própria condição e pediu se eu era mesmo o tal de Rufus de quem tinha ouvido falar. Minha cara de sono disse sim, enquanto ela apertava meu saco e fazia grunhidos aprovadores. – Acho que vamos nos dar bem, sussurrou.

Disse tranquilamente que fazia o melhor boquete da casa de estudante ajoelhando-se para abrir minhas calças. Fazia já algum tempo que eu deixara de classificar as mulheres em vadias ou não. O erotismo mora na espontaneidade das situações, não é? Deixei aquela estranha conhecer-me. Prendeu os cabelos com uma borrachinha que tinha no pulso e pôs a boca. Olhava minha fisionomia atentamente, seguindo o meu prazer, com olhos grandes, enquanto descia e subia, com força. A minha cabeça ficou estrangulada com aquilo tudo.

Gostava de trepar “perigosamente”. Durante umas férias que passamos em torres, dentro do quarto do nosso apartamento, exigiu amorosamente que eu a comesse contra a janela. Eu obedecia. Enquanto transamos ora despia-se televisivamente ora levava as duas mãos aos cabelos.

Lola não era bonita. Creio até que assustou um bom número de amigos meus. Havia nela uma total indiferença estética e lingüística ou, em outras palavras, dizia no meio dum filme, segurando um copo de plástico com vinho de caixinha: - posso dar uma chupadinha?

A única coisa que não me agradava nela era sua excitabilidade. Numa boa noite alcoólica ela gozava mais de dez vezes. Só um pouquinho de violência e a vizinhança já “preparava pipocas” para aqueles gritos extasiados que eu não me esforçava muito em proporcionar. Depois, morria lassa na cama choramingando seu vazio: - nunca fui compreendida nesta vida de merda.

Descobri depois que partiu que ela fazia amor consigo mesma e eu era só o meio, a ponte com dentes e piça, sua máquina de prazer particular. E aquele que punha rivotris na sua boca quando suas crises voltavam. Ninguém fica intacto depois que descobre como pode ser egoísta uma mulher.

Hoje, mais de 12 anos depois, fiquei sabendo por cartão-postal que ela está trabalhando como puta artística em Buenos Aires. Disse que tem vários fãs que vêem assistir seu trabalho. Pareceu feliz com todo aquele palavreado sobre vida nova e planos para o futuro. Na foto presa ao cartão-postal vi onde se apresenta: um palco simpático, sem pau de puta ou qualquer outra coisa indecente, decorado com cortinas vermelhas e gigantescos espelhos.

3 comentários:

  1. "If you're feeling down depressed and lonely
    I know a place where we can go
    41 João Pessoa Avenue
    Meet a lady that I know"

    essa Lola, oww
    meu, já te disse há pouco que achei demais esse conto. mas não pude perder a oportunidade de fazer um trocadilho infame com Maiden - apesar de tu ter gritado agora mesmo: "NÃO coloca Iron Maiden pra tocar!". mas é, Ludus, essa casa tem dessas criaturas.
    RUN LUDUS RUN!

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  2. Hahahahaha! Adorei muito. Converso com você pessoalmente (para fazer a crítica, obviously).

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  3. Tudo mentira: Queria fazer mas ele olhou pra mim e disse: "Menina, da fruta que você gosta, eu chupo até o caroço"

    hahahaha, viadinho nunca pegou ninguém

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